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Advogados empreendedores já ocupam cerca de 70% do mercado

Advogados empreendedores já ocupam cerca de 70% do mercado

Dados da OAB Nacional e da Fundação Getúlio Vargas indicam que o empreendedorismo jurídico é uma realidade cada vez mais presente no cenário brasileiro. A pesquisa indica que cerca de 70% dos advogados atuam como profissionais autônomos ou sócios de pequenos escritórios, o que demonstra uma migração significativa da advocacia tradicional para modelos mais empreendedores.

Essa transformação do mercado jurídico, aliada ao aumento da concorrência, tem impulsionado advogados a enxergar o direito também como um negócio, exigindo visão estratégica, inovação e posicionamento digital. Neste cenário, uma questão importante, e as vezes ambígua, é sobre qual caminho seguir: o do empreendedorismo ou o convencional.

“Penso com frequência na relação entre advocacia e risco. São diversas as formas de se praticar o direito. Restrinjo o meu comentário, entretanto, à divisão entre, de um lado, advocacia institucional, praticada em escritórios estabelecidos, e, de outro, a advocacia empreendedora, de criação de um novo negócio”, conta Leonardo de Campos Melo, advogado especialista em contencioso judicial e administrativo estratégico e em arbitragem, e sócio-fundador do escritório LDCM Advogados.

Entretanto, qual é a melhor das duas formas de advogar? Para Leonardo, não existe resposta certa para essa pergunta. “Ambos os caminhos têm suas vantagens e desvantagens, desafios e riscos. Já vivenciei as duas formas de advogar. A minha decisão de empreender foi resultado de um processo de amadurecimento profissional que conta com longos anos de prática, formação acadêmica, aprendizado em lidar com clientes, humildade para reconhecer limitações e o sonho de estar à frente de um negócio próprio. Antes de hoje, fui sócio de dois grandes escritórios de contencioso, ambas bancas sólidas e tradicionais, e, em 2018, fundei o LDCM Advogados. À época com apenas três advogados, um estagiário e uma funcionária administrativa. Hoje somos um grupo com mais de 30 profissionais”, lembra.

De volta aos estudos, um outro levantamento, desta vez realizado pela Legal Hub, em 2024, mostra que 63% dos profissionais que decidiram empreender no direito citaram a busca por autonomia como principal motivação. A dificuldade de ascensão em grandes bancas, os altos custos de manutenção em modelos tradicionais e a necessidade de flexibilização da rotina também pesaram na decisão.

Crédito: divulgação

“Conheço muitos colegas que não encontram paz, no sentido amplo, fora da estabilidade de escritórios consolidados e do status que deles advém, além da previsibilidade de carreira e financeira, mesmo diante das grandes pressões internas dessas instituições. Esse caminho, contudo, é também cheio de percalços e incertezas, e poucos o trilham por completo. O risco, portanto, nessa realidade, é acentuado, quiçá um pouco mais diferido no tempo”, continua Leonardo. 

Contudo, os empreendedores, por sua vez, têm uma relação diferente com o binômio risco e tempo. “A incerteza é sim causa de extrema preocupação e ansiedade, não conheço advogados empreendedores que não vivam constantemente preocupados com o futuro de seus escritórios, dos iniciantes aos mais experientes, mas é também vista como oportunidade. Isso sem falar na promessa, tantas vezes não alcançada, de retorno financeiro diferenciado”, completa.

No fim das contas, a cultura empreendedora entre os advogados também tem gerado um ecossistema próprio que conta com cursos de gestão, mentorias, eventos de networking e comunidades digitais voltadas para a advocacia moderna. A profissionalização da gestão dos escritórios e o uso de dados para decisões estratégicas vêm sendo apontados como diferenciais para a sustentabilidade desses negócios.

“O caminho do empreendedorismo é penoso, pois demanda um altíssimo custo de energia e, principalmente, emocional. As incertezas, angústias e preocupações são muitas e permanentes. Bem-vistas as coisas, o risco estará sempre presente em qualquer carreira que o advogado optar por trilhar. Ele apenas se manifestará em formas, intensidades e tempos distintos”, finaliza Leonardo.

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